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28 de abril de 2012

A Confissão

Dias após a morte da esposa, Maurício enfrenta dificuldades para dormir. Anda sempre desconfiado de que alguém está lhe vigiando. Com medo de que descubram o seu segredo ele se priva de sair de casa, sai apenas para trabalhar. Por dentro ele sente-se culpado pelo ocorrido, mas tenta esquecê-lo logo que lembra.
Naquela casa tão sombria, quase sempre fechada, fenômenos estranhos acontecem, ao apagar das luzes, a turbulência começa. Na rua, um vento forte balança os galhos de uma figueira enorme, assustadora. Deitado em sua cama, começa a ouvir a voz da esposa chamando pelo seu nome, um som tão suave que o fazia relembrar bons momentos que passaram juntos. Após, ouve passos e a vê, através da luz refletida por um poste que havia na rua, ela estava lá, parada, na porta do quarto, observando-o. Divina beleza apresenta agora, ser atraente que lhe instiga o desejo, tarefa difícil encará-la após o ocorrido. Com pavor, cobre-se com a manta, tapando completamente a cabeça, inútil! Ela move coisas, arrasta, faz tantos barulhos que lhe chamam a atenção, sendo impossível dormir.
Ao amanhecer, após uma noite agitadíssima, ele levanta-se para trabalhar. Apronta-se, faz uma bela refeição e ao sair pela porta avista a esposa acenando, como lhe era de costume. Ele estremece, abaixa a cabeça e anda rapidamente até a empresa que fica a três cruzamentos após a sua casa. Ressabiado, não vira a cabeça para nada nem para os lados, sabe que se fizer isto, poderá vê-la.
Na empresa, ele não conversa com ninguém nem para desejar um bom dia a quem passa, são longas horas de solidão onde a consciência entra em ação. Em sua memória, cenas do ocorrido começam a se reproduzir, vê sangue, arma e escuta o som dos gritos estridentes da esposa.

Pensava estar ficando paranóico, as aparições tornavam-se mais freqüentes. A cada dia que se passava a angústia que sentia era mais forte, enorme peso em sua consciência. Solitário, começa a chorar de desgosto, mas algo estranho aconteceu naquele dia. Após desabar em lágrimas, ouve alguém batendo à porta, temeroso, receia em ir ver quem é. As batidas tornam-se mais fortes, então o trinco gira lentamente e ele ouve a porta ranger, estava tão concentrado pensando nos fatos que esqueceu a porta aberta. Com medo, não hesitou em levantar do sofá, o qual estava deitado.
- Maurício! – alguém chama, mas ele não reconhece a voz, portanto, fingiu não ter escutado. – Maurício! – insiste a voz. – Sou eu João! – aliviado, Maurício levanta-se do sofá, abraça João e começa a lamentar.
Há dias não via o amigo que conhecia desde a infância, passam longas horas conversando, coisa que não mais fazia. Conversa vai, conversa vem, e Maurício lhe conta algo, João sabia partes do acontecido e ficou impactado com o que ele acabara de lhe falar. Que a esposa de Maurício o traía, todos do bairro diziam, mas ninguém nunca provou. Maurício confessa que tomou uma decisão precipitada, João vai embora, chocado e promete manter segredo.
Ao anoitecer daquele dia, recebeu, também, a visita da esposa, já estava acostumado, mas dessa vez foi diferente, ela aparentava estar furiosa. Sentia a presença dela na casa, o clima tornava-se pesado. A figueira balançava lá fora, batendo os galhos na janela do quarto, Maurício deita-se. Sabia que ela apareceria, por isso não apagou as luzes, mas uma queda de energia fez com que tudo virasse um breu, nenhuma iluminação havia, era uma terrível escuridão. Apavorado, ele não mexe um músculo sequer, começa, então, a ouvir os passos e uma voz que conversava com ele, dizendo assim:
- Por que te escondes de mim? Não se preocupes, não vou te machucar! Passo por aqui todos os dias apenas pra ver como você está! Sei que estás sentindo remorso, vim aliviar sua consciência e dizer que eu lhe perdoo. Os boatos eram reais, eu lhe traí uma vez e foi com o seu melhor amigo, o João, lembra daqueles anos em que você serviu o exército e ficou por fora? Mereces saber, recebi minha devida condenação, mas agora quero a sua! Confesse! Maurício confesse! Confesse! Confesse! Confesse! – as palavras da esposa martelavam em sua cabeça, era tanta pressão que ele não aquentava mais, levantou-se da cama, tropeçando em tudo por não enxergar nada. Conseguiu chegar ao pátio da casa, correu até a garagem. Com a ajuda de uma lanterna que havia por lá, escreveu uma carta e colocou-a no bolso, encontrou uma corda, a qual enrolou no pescoço e enforcou-se na figueira.
No dia seguinte a imprensa e o departamento de polícia cobriram o local, receberam a denúncia do vizinho que ao acordar se deparou com o corpo pendurado. A polícia encontrou o corpo da mulher que estava enterrado em uma das extremidades da árvore, segundo o perito criminal ela foi morta com um tiro na cabeça. A arma, um revólver calibre 38, estava enterrado junto com a mulher e continha as digitais de João. Após encontrar a carta no bolso de Maurício, que dizia assim: -“Não matei minha esposa, mas fui cúmplice! No chão abaixo dessa árvore está a prova do crime, junto com o corpo de minha amada!” P.S. João não se preocupe comigo, pois eu voltarei!” – a polícia apreendeu João e o condenou a prisão logo após sua confissão:
- “Maurício era meu melhor amigo, estava quase todos os dias na casa dele! A esposa dele era muito atraente e acabamos nos envolvendo, tivemos um caso. Nos dias que se seguiram estávamos completamente apaixonados, o povo começou a desconfiar e os boatos chegaram aos ouvidos de Maurício que logo quis tomar providências e matar o infeliz que estava saindo com a mulher dele, como era minha pele que estava em jogo resolvi armar um esquema e o convenci a matar a mulher, mas ele não conseguia fazer isso, então tive de fazer eu mesmo o trabalho. Ele me deu a chave da casa e ficou por fora naquele dia, eu a atingi enquanto estava lavando a louça, ela não teve a chance de ver quem era, então, larguei a arma no chão, fechei a porta e fugi, depois disso não nos falamos mais. Estou ciente de que tenho que pagar pelo que fiz!”
À noite na prisão, ouve-se um grito muito forte vindo da cela de João, seguido das palavras “Me perdoe!”. Na manhã seguinte, foi encontrado morto com a garganta cortada.

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